No Dia do Administrador Hospitalar, a ISCMC entrevistou nossa primeira trainee executiva mulher para falar sobre os desafios e novas perspectivas de gestão em hospital.
“Mesmo não sendo da equipe assistencial, meu trabalho também é salvar vidas”. É assim que Inara Valiente, 32, descreve o trabalho de um administrador hospitalar. Formada em Administração com ênfase em Comércio Exterior e pós-graduada em Gestão Estratégica e Gestão de Saúde, Inara é a primeira mulher a ocupar o cargo de trainee executiva na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba.
Nascida em São Paulo e com experiências em outras regiões do Brasil, ela abraça novos desafios cotidianamente em prol de cuidar de vidas e desenvolver pessoas. Inara já possui mais de sete anos de experiência na área da saúde, passando por cargos como assistente administrativo, assistente e analista de qualidade, assim como analista de suprimentos.
Logo em seguida começou a sua jornada como trainee executiva atuando no Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência em Ananindeua e no Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo, ambos no Pará. Atualmente coloca seus aprendizados em práticas no Hospital Maternidade Alto Maracanã, uma unidade da ISCMC em Colombo (PR).
O trabalho e compromisso com uma boa gestão em saúde é reafirmado hoje, 14 de julho, Dia do Administrador Hospitalar. Esse profissional é o responsável por gerir um hospital em todos os quesitos, de hotelaria aos suprimentos, para garantir uma assistência de excelência.
Assim, o profissional deve estar preparado para planejar, organizar e dirigir um hospital em suas rotinas corretamente e com segurança. Após períodos conturbados da Covid-19, esses profissionais precisam se reinventar cada vez mais para superar desafios.
A ISCMC entrevistou Inara para lhe perguntar dos aprendizados e suas expectativas para o futuro. Ela nos conta algumas dicas, como se preparar e, principalmente, o papel de um bom líder. Confira.
Pergunta: Como foi o início como trainee executiva?
Resposta: O começo foi certamente desafiador. Sair do universo corporativo em que eu estava e integrar um cargo de trainee executiva em uma unidade de saúde me mostrou uma visão totalmente diferente do que já tinha.
Fui colocada no lugar das pessoas que antes eram cobradas por mim. Desta forma, aprendi na prática as dores e dificuldades que as unidades possuem no cotidiano. Algumas coisas que você aprende mesmo só vivendo e que eu não imaginava existir.
Pergunta: Quais foram seus maiores aprendizados nos últimos anos?
Resposta: Acredito que o principal aprendizado foi me colocar no lugar do outro. A empatia. Aprendi a me recordar diariamente, que mesmo não sendo parte da equipe assistencial, o meu trabalho também é cuidar de vidas com amor e competência. Ou seja, fazer o meu melhor para que essa pessoa possa voltar para casa bem, saudável e com a melhor experiência possível.
Os pacientes não escolhem estar no hospital, mas nós sim. Então é nosso dever contribuir para que esse período na unidade seja o mais resolutivo e satisfatório possível.
Pergunta: Em um mundo onde a área da saúde enfrentou a Covid-19, como você enxerga a importância de uma boa administração hospitalar para superar crises?
Resposta: A Covid-19 veio para nos mostrar que não podemos nos acomodar e pensar que tudo está garantido.
O perfil do gestor hospitalar precisa ser bem adaptável. Hoje podemos estar em uma unidade oncológica de 80 leitos, mas amanhã estar em uma unidade de trauma de 200. Esse perfil foi essencial para lidar com a escassez de mão de obra especializada, falta de material e medicamentos, aumentos exorbitantes nos valores dos produtos e a flexibilização na abertura e fechamento de leitos de uma hora para a outra.
Estar adaptável, atento, articulado e preparado para isso é essencial para superar um cenário em que tudo era incerto. Além disso, uma boa gestão consegue inspirar e motivar os demais a continuarem lutando pelo nosso bem maior, sendo a vida do paciente, mesmo em tempos que as pessoas sentiam medo. Você precisa ser a âncora, o porto seguro daquelas pessoas.
Pergunta: Quais são suas expectativas para o futuro de um Administrador Hospitalar?
Resposta: Tenho expectativa que com o controle da pandemia, nós possamos direcionar forças em algo que já é falado há muito tempo, mas pouco investido: a atenção primária a saúde.
O reflexo da pandemia está vindo agora. Vemos muitas pessoas, que por diversos fatores, não fizeram acompanhamento médico nesses dois anos devido à quarentena. Eles agora buscam o serviço de saúde com doenças já em estágio mais avançado pela falta de acompanhamento prévio.
Além de ser muito mais caro você tratar do que prevenir, temos o fator paciente. Se essas pessoas receberem o acompanhamento correto previamente não precisariam passar por essa situação tão delicada. Um administrador hospitalar precisa compreender que não é apenas tratar doenças, mas cuidar de pessoas.
Pergunta: Quais as diferenças você tem notado no perfil de um administrador hospitalar de antes para os que começam a carreira agora?
Resposta: Tenho visto entre meus colegas uma curiosidade grande em ver como é a operação das equipes no cotidiano. Não somente gerir e direcionar, mas ver de perto como cada processo é feito. Vejo isso como algo ótimo, pois podemos criar estratégias mais efetivas constatando na prática as dificuldades enfrentadas pelos setores. Isso inclusive serve de autocrítica, por nos dar uma visão de como é executar os processos que nós criamos. Acredito que os administradores de hoje têm potencial para não ficarem tanto no escritório e separarem algum momento do dia para acompanharem mais de perto a operação.
Pergunta: Na sua visão, o que concretiza um bom líder?
Resposta: Um bom líder é aquele que ama aquilo que faz. Penso ser aquela pessoa em que todas as suas ações são pautadas em ética e integridade. Obviamente, o líder precisa ter foco em resultados, mas sem esquecer que ele ou ela está ali para garantir o melhor desfecho ao nosso paciente.
Um bom líder administrador hospitalar sabe ouvir opiniões e aceitar críticas, se mantém atualizado, entende que a melhoria deve ser contínua. E principalmente: entende que somente conseguimos atingir os resultados quando todos trabalhamos em equipe.
Para todos que querem se tornar administradores hospitalares um dia, essas são as minhas principais dicas baseadas na minha experiência.