Amados irmãos e irmãs,
Celebrar esta santa vigília em honra dos apóstolos Pedro e Paulo é colocar-nos no coração da Igreja, junto aos seus fundamentos. E é ali que o Senhor nos ensina o caminho da fé: não o caminho da perfeição sem tropeços, mas o caminho do amor que recomeça.
A primeira leitura nos apresenta Pedro e João subindo ao templo para a oração (At 3,1-10). Ali, na porta chamada Formosa, encontram um homem coxo de nascença. Ele lhes pede uma esmola, mas Pedro responde com palavras que marcaram a história da missão cristã: “Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda!” (v. 6) Essa cena resume o ministério apostólico: não dar coisas, mas dar Cristo. Pedro é o mesmo que havia negado o Senhor. Mas agora, curado pela misericórdia, se torna instrumento de cura para os outros. Seu gesto não é fruto de sua força pessoal, mas do nome de Jesus. É o Senhor quem age por meio de Pedro. É a graça que transforma o frágil em pastor.
O salmo 18A canta exatamente isso: “Seu som ressoa e se espalha em toda a terra.” (v.5) A ação de Deus, por meio da Igreja, não se restringe a um tempo ou lugar. O anúncio do Evangelho é universal. E somos nós, frágeis como Pedro, os portadores dessa missão.
Na segunda leitura – Gl 1,11-20 –, Paulo recorda à comunidade da Galácia que o Evangelho que prega não veio dos homens, mas de Deus: “Foi o próprio Jesus Cristo quem o revelou a mim.” (Gl 1,12) De perseguidor, Paulo se torna pregador. De destruidor da Igreja, torna-se seu apóstolo. A mesma graça que transformou Pedro, transforma também Paulo.
E o Evangelho (Jo 21,15-19) nos conduz ao coração de tudo: o amor. Jesus pergunta três vezes a Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas?” E a cada resposta, dá-lhe uma missão: “Apascenta os meus cordeiros… Apascenta as minhas ovelhas.”
Jesus não exige currículo, nem planos pastorais. Ele quer amor. É esse amor que repara a negação, que cura a vergonha, que restitui a dignidade e dá sentido ao serviço. Pedro não se justifica. Apenas responde: “Senhor, tu sabes tudo. Tu sabes que eu te amo.” (Jo 21,17)
Irmãos e irmãs, essa é também a pergunta que Jesus nos faz nesta noite. Não sobre nosso desempenho, mas sobre nosso amor. E, se nossa resposta for sincera, mesmo que frágil, Ele nos confiará também uma missão. Porque a Igreja não se sustenta no mérito humano, mas na misericórdia e na confiança de Deus.
São Paulo apresenta como que a própria “autodefesa”, antes, zeloso no judaísmo e perseguidor da Igreja: agora, anunciador do Evangelho – cuja origem é divina, tal como sua vocação. O encontro com Pedro confirma a autenticidade de sua pregação.
Paulo, pela pregação da Palavra e impulso missionário. Pedro, como pedra, que nos ensina o fundamento do amor cristão!
Que o exemplo de Pedro nos ajude a recomeçar sempre. Que o amor de Cristo nos cure e nos envie. E que, como ele, possamos dizer: “Não tenho ouro nem prata… mas tenho Cristo.” Amém.
+Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR)